Nossa História

Uma Viagem no tempo

O início

     A história do SINDICATO DOS CIRURGIÕES-DENTISTAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO foi construída na ebulição da História do Brasil. Uma trajetória riquíssima de lutas, conquistas e personagens que deixaram um legado inestimável de amor à odontologia.

     Surgida em 1911 a Associação Central Brasileira de Cirurgiões-Dentistas, teve como fundador Frederico Carlos Eyer, um ícone da odontologia da época, sendo então editado o primeiro jornal sindical odontológico sobre o título de Boletim Odontológico. Em 1922, sua denominação foi substituída por Associação dos Dentistas Brasileiro, com sede na rua Paulo de Frontin, 128, no Catumbi.

     Com o fim da Primeira Guerra, a política nacional fervilhava, social e culturalmente, período em que o sindicato realizou dezenas de congressos nacionais e internacionais, preocupado com a formação técnica dos cirurgiões-dentistas, com a prevenção e o acesso da população ao tratamento odontológico.

     Em abril de 1925, Frederico Eyer funda na rua do Washington Luiz, 128, no Centro do Rio, a Assistência Dentária Zeferino D´Oliveira que durante décadas desenvolveu um excelente trabalho pedagógico-dentário atendendo a milhares de crianças pobres. A obra idealizada por Eyer, infelizmente encerrou suas atividades na década de 70.

     Frederico Eyer foi também, fundador e presidente da Federação Odontológica Brasileira em meados da década de 30, quando se inicia a grande campanha nacional contra os dentistas práticos.

 

     Com o fim da República Velha e a posse de Getúlio Vargas em 1930, os sindicatos assumem o papel de legítimos defensores de suas categorias de trabalhadores. A então Associação dos Cirurgiões-Dentistas transforma-se no Syndicato Odontológico Brasileiro (com y mesmo), com sede provisória na rua dos Ourives, 52, no Centro, sob a presidência de Aristóteles Coutinho. Sustentando o lema “É dever de todo o cirurgião-dentista fazer parte do Sindicato Odontológico Brasileiro, o grande baluarte da classe!”. Mais tarde transferiu-se para avenida Presidente Wilson, 118, 1º andar, sendo então presidido pelo então professor Chryso Fontes.

     Em 11 de abril de 1931, Getúlio Vargas edita o decreto 19.852, surgindo assim a figura do dentista prático, sem formação teórica e técnica dos quais muitos eram analfabetos. A decisão de Vargas tinha fins unicamente eleitoreiros.

     Em 22 de fevereiro de 1932 é editado o decreto 21.073 que regula definitivamente o exercício da odontologia pelos dentistas práticos licenciados no Distrito Federal.

     A guerra estava declarada.

     De Norte a Sul, de Leste a Oeste, os cirurgiões-dentistas unem-se contra a ilegalidade da ditadura Vargas. O Sindicato Odontológico Brasileiro agiganta-se. O Palácio do Catete, sede do Governo Federal, passa a ser freqüentado por comissões de cirurgiões-dentistas do sindicato exigindo de Vargas a revogação do decreto que amparava a figura do prático licenciado.

     Em 1932 é fundado o Instituto Brasileiro de Estomatologia do Distrito Federal, com sede na avenida Mem de Sá, 197, presidido por Carlos Newlands e tendo como secretário geral Plinio Senna, um dos fundadores do sindicato.

     As décadas de 30 e 40 são marcadas por campanhas, denúncias e crises envolvendo desde a reforma no ensino odontológico, fraudes nas eleições sindicais, disputas por cargos na faculdade de odontologia da Universidade do Brasil e o apadrinhamento para ingressar no serviço público.

     A campanha contra os práticos porém, constitui-se na grande bandeira da luta sindical.

     Levantam-se as vozes das lideranças jovens e combativas que, com seus artigos, ocupam as páginas dos principais jornais da época como o Imparcial, o Diário de Notícias, o Jornal do Brasil, o Diário Carioca, O Globo, a Vanguarda, O Radical, A Noite, a Folha da Manhã, a Pátria, entre outros.

     Nomes como o de Nathaldo Borges Alexandre, Ernesto Salles Cunha, Silvestre G. Filho, Pascoal M. Coutinho, Plinio Senna, Aristóteles Coutinho, Seabra Júnior, Orlandino Prado, Xavier de Britto, Abelardo de Britto, José de Luca, Frederico Eyer, Alexandrino Agra, Francia Junior, Julio Ferreira Caminha, Ferreira Alves, Agrippino Ether, Hidelbrando Braga,Chryso Fontes, Lauro S. Rosado, Fernando Soares Brandão, Joaquim Ottoni Benedito Júnior, Wladimir Pereira de Souza, Orlando Chevitaresse, Charley Fayal de Lyra, Antônio Ribeiro Filho e tantos outros transitavam nas redações e nos corredores dos governos, da Câmara Federal e do Senado determinados a consolidar o exercício legal da odontologia nas bases técnico-científicas adquiridas na universidade.

 

Nathaldo, o aguerrido

     Na batalha pelo fim do dentista prático, sobressai em 1933, o episódio em que o então presidente do sindicato, Nathaldo Alexandre, um ferrenho defensor da odontologia científica, solicita ao ministro da Marinha informações sobre a contratação de um dentista prático nomeado para exercer suas funções nas Escolas de Aprendizes de Marinheiro no estado de Pernambuco.

     Na resposta, o então vice-almirante Tancredo Gomensoro, Diretor Geral do Ensino Naval, dá uma justificativa pouco convincente que provoca no presidente do Sindicato Odontológico Brasileiro uma indisfarçável decepção.

     Em 1934, Frederico Eyer expõe a Nathaldo Alexandre sua pretensão de concorrer a uma vaga de deputado federal para ampliar a luta contra os práticos. A análise do quadro político da época e o apoio ao candidato feito por Nathaldo, constituem-se numa obra-prima da historiografia odontológica, expressa em carta de 10 de novembro de 1934 que encontra-se nos arquivos do SCDRJ.

     Nathaldo foi, juntamente com outros importantes sindicalistas da época, um dos mais destacados responsáveis pelo fim do prático licenciado, o que só ocorreu bem mais tarde, quando a maioria desses combatentes já estavam aposentados.

As trevas da República

     Em maio de 1943, em plena ditadura Vargas é editada a Consolidação das Leis do Trabalho, subordinando os sindicatos à tutela do Estado.

     Durante os anos seguintes, o Brasil viveu inúmeras e intensas convulsões político-sociais, tendo os sindicatos o papel de agente catalisador da maioria delas. Os trabalhadores ganham força no contexto nacional, conquistando leis importantes que perduram até hoje.

     Em 1964, instala-se um regime de exceção que suprime os direitos individuais, fecha o Congresso Nacional, invade os sindicatos submetendo suas atividades a rigoroso controle: são os tempos de chumbo.

     Sob a denominação de Sindicato dos Odontologistas no Estado da Guanabara, o sindicato tem seus estatutos, sua contabilidade e suas eleições controladas pelo Ministério do Trabalho, período em que volta suas ações para realização de congressos, festas sociais e atividades dissociadas das lutas trabalhistas.

A redemocratização

     Em 1979, a sociedade organizada conquista a anistia ampla geral e irrestrita.

     Várias lideranças sindicais cassadas pelo regime militar ou que estavam no exílio, retornam ao país. A vida sindical retoma o seu fôlego. O país marcha para a democracia.

     Há quarenta anos trabalhando no SCDRJ, o escriturário José Semeão é testemunha dos mais importantes fatos ocorridos no SCD nas quatro últimas décadas: “o quartel-general dos sindicalistas daquela época era o Restaurante Paisano que, ficava ao lado do Edifício São Borja, onde se localiza a sede do sindicato. Ali se reuniam até a madrugada, militantes das mais diversas categorias sindicais que, entre um chope e outro, planejavam a realização de greves e passeatas”, recorda.

     Os anos 80 marcaram as campanhas pelas Diretas Já e a convocação da Assembléia Nacional Constituinte, culminando com a promulgação da Constituição de 1988 e com o fim da interferência do Ministério do Trabalho nos sindicatos.

     A partir de 1992, o sindicato realizou dezenas de dissídios coletivos, quintuplicou o espaço físico de sua sede, criou o Centro de Estudos e Atualização Profissional, dinamizou seu jornal TRIBUNA ODONTOLÓGICA, obteve vitórias em milhares de ações trabalhistas, voltando suas ações para a valorização do trabalho odontológico e da dignidade do cirurgião-dentista.

     Em 1994, a entidade passou a denominar-se SINDICATO DOS CIRURGIÕES-DENTISTAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, conforme preconiza o Conselho Federal de Odontologia.

     Ao completar 100 anos de fato e 80 oficialmente, o SCDRJ continua reproduzindo as lutas das antigas lideranças. É óbvio que o mundo e o Brasil, mudaram. A globalização contudo, impõe regras impiedosas para a relação capital x trabalho. O ensino revestiu-se do manto da comercialização, insistindo no modelo tecnicista, onde o humano passa ao largo. Faltam lideranças e sobram oportunistas de todos os matizes. Mas ainda assim é preciso não esmorecer, confiar no Brasil, na sua formação ética e na capacidade de reação do seu povo.

Ontem e sempre

      Fernando Pessoa em sua genialidade, afirma que “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

     Escrever sobre a história do sindicato é como se estivesse sentado na poltrona de um trem mágico vendo passar pela janela fatos, pessoas e seus sonhos.

     Num país em que a preservação da memória nacional é objeto de descaso, torna-se privilégio ter contato com documentos que resistiram ao tempo e a sanha destrutiva da insensibilidade daqueles que deviam preservá-los.

     Há cerca de dois anos, por ocasião de uma reforma feita no sótão do SCD, encontrei algumas caixas e pastas em avançado estado de decomposição; efeito implacável do tempo. São documentos preciosos que revelam com fidelidade acontecimentos incandescentes que ano a ano consolidaram a existência das mais importantes entidades da odontologia em nosso estado.

     Muita coisa se perdeu, mas felizmente o que se salvou será eternizado.

     São pequenas conjurações e seus respectivos próceres, dos mais diversos matizes ideológicos. Aliás, em se tratando de convencimento político ou o que seja, isso é o que menos importa quando se trata do interesse coletivo.

     No caso vertente, o único interesse que moveu os personagens que participaram desta grande cena na primeira metade do século XX, foi a odontologia.

     Este modesto texto acima, nada mais é do que a tentativa de prestar o merecido reconhecimento a todos os cirurgiões-dentistas que, anônimos ou não, com maior ou menor participação, deram sua contribuição para projetar a odontologia brasileira na dimensão técnico-científica e de expressiva importância para a saúde da população. A eles o nosso eterno reconhecimento.

     Parabéns ao SCDRJ. O presente justificando o passado.

Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas/RJ

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